terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Recreio

Eram 15 minutos que faziam valer o dia.

E quando se diz Valer o dia. Era porque, simplesmente, ela só acordava porque pensava no recreio.

- Acorda, Maria Júlia. Acorda.

E isso se repetia pelos mesmos dias. Aí ela pensava em coxinha. Pensava em chiclete. Pensava na aula chata de matemática. Mas entre essa e aquela aula jurássica de história, tinha o recreio. Aqueles exatos 15 minutos.

O tempo suficiente para fazer o coração de Júlia acelerar.

É verdade que no recreio, acontece muita coisa. Mas para o coração de Júlia, tudo mudou.

Ele ganhou o mundo. E foi no recreio, que ela se apaixonou.

Ele era um menino preguiçoso. Andava sozinho, não falava com ninguém além dos seus cadarços que quase sempre andavam desamarrados.

Mas não era por isso que ele tropeçava tanto.

Faltava um pouco de atenção. E talvez, por faltar atenção, ele tenha despertado a atenção dela.

Agora, Júlia não mais demorava para acordar, Ela ao contrário, dava um abraço de bom dia na cama da mãe. O problema é que Júlia não mais dormia como antes.

Ela começou a dividir o tempo de insônia em pequenas frações de recreio.

A hora da coxinha. A hora de ver aquele menino. A hora em que ele tropeçava.

E finalmente, quando chegava na aula de história, Júlia começava a dormir.

E haja história para sonhar.

O que podia ser felicidade, chegava a apertar o coração da menina: chegava o fim de semana. E agora? Deveriam inventar o recreio nesses tais dias inúteis. Era assim que Júlia entendia um dia que não era útil.

Mas tudo bem, é o preço que se paga por passar dois dias sem matemática: sem recreio também.

Mas finalmente chegou a segunda-feira. o primeiro dia da semana. O primeiro recreio da semana. Uma segunda que para muitos significava saudades , para ela era um misto de sono mal-acostumado e hora de acabar com a saudade.

E lá estava chegando o menino. Assustado, de cadarços desamarrados. olhando para o chão. E de repente , como sempre, ele tropeça.

Bem que Júlia sentiu que essa segunda não era comum. Ela esperou tanto para o dia chegar que até parecia que esperava por algo que ia acontecer.

O menino tropeçou no pé de Júlia.

Passaram alguns segundos se olhando. Eram apenas segundos, mas que pareciam um recreio inteiro.

- qual o seu nome?

- João.

O menino saiu correndo com as bochechas rosadas. E no meio do caminho, quando Júlia ainda o procurava com o olhar de alegria, ele parou.

lentamente amarrou o cadarço.

Porque naquele dia, justo naquela segunda-feira, o recreio passou a ser diferente também para o menino.

O menino não tem cara de João, tem cara de amor.

Precisamente, de primeiro amor

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