terça-feira, 15 de abril de 2008

Quebra-cabeça

Era um dia incomum na vida dela. Sempre, ela reclamava que todos os dias eram iguais. E agora que estava diferente, ela começava a sentir falta daquela antiga calma.

Foi nesse dia que ela descobriu que perdeu um pedacinho do coração. Meu deus. Como podia ser assim tão boba a ponto de deixar um pedaço de um coração por aí, sem cuidados.

Ela começou a inventar mil maneiras de enganar aquele coração que ficou, que teimava em continuar no mesmo lugar, embora estivesse sem o tal pedaço.

Por que eu não perdi o coração inteiro e apenas não fiquei com um pedacinho? De repente, eu poderia tomar conta dele. Seria até mais fácil. Era só colocá-lo numa caixinha de fósforo. Ou quem sabe, numa caixinha de música para dar sorte todo dia antes de dormir.

Bom, um pedaço de um coração dentro de uma caixinha de fósforo pode não ser uma boa idéia. Imagine, um coração derretido, ou explodindo por aí na mão de qualquer um.

O pior era, aquele coração ali que ficou, incomodava bastante sem o pedaço. Ela tentava esquecer. Tentava colocar um pedaço de algodão para colar as partes.

Tentava fazer um pedacinho de papel colorido, misturado com massinha de modelar vermelha. Mas não adiantava enganar o coração. Ele não era bobo.


- Ah já sei. Foi um pombo que pegou.

Nossa. Logo um pombo? Ela não era lá muito chegada a pombo.

Foi aí que ela sentiu um cheiro. Algo assim que imsturava música, melodia, algumas risadas e uns pensamentos escondidos.

Ela sentiu o aroma de algo que foi bom, mas que se perdeu no tempo. Então, a menina descobriu que na verdade, estava aprendendo a se defender.

Ela teve tanto medo de que aquela sensação de coração batendo e mãos trêmulas passasse, que ela mesma arrancou o pedacinho do coração. Foi algo assim, meio bobo. Mas e daí? Desde quando ter insônia por pouco era maduro?

Nessa brincadeira de tentar achar o pedaço do coração, e nessa confusão sem fim, a menina cansou tanto que desistiu de encontrá-lo.

Ela lá nunca foi muito boa nisso de quebra-cabeças.

Ah, vai ver que era isso.

Ela começou a sentir medo. E um monte de sentimento misturado assim, ao mesmo tempo.

E foi assim, que descobriu uma coisa. Sem querer, já estava brincando de quebra-cabeça.

E nessa história toda, ela não conseguia encaixar muita coisa. Isso dava agonia, mão trêmula e até coração sem pedaço batendo do mesmo jeito.