sábado, 22 de março de 2008

Tic Tac

Eram exatamente 5 da tarde. mais 5 minutos de pôr do sol e alguns
segundos de indecisão.

Ela tirava o celular da bolsa a cada dois minutos. virava pelo avesso
cada detalhe que carregava naquela tarde insana.

em uma dessas loucura, deixou cair um chiclete e mais 5 papéis de não
sei o que mais e não sei onde. Um desses papéis que servem para as
pessoas acumularem sem motivo, e quando jogarem fora, aí sim. Vão
sentir que de alguma forma, se livraram de um peso ai qualquer.

mesmo que seja um peso de papel.

mas isso não funcionou para ela.

nem o jogo do celular novo. nem tampouco as mensagens de confidências
de amigos que ela teimava em ler toda vez que sentia medo, ou que
fingia não estar um pouco nervosa no consultório do dentista.

Na verdade, ela não sabia de onde vinha essa mania de toda vez olhar a
hora quando tivesse que tomar uma decisão. Era como se o ponteiro
tivesse a obrigação de trazer a resposta a cada 360 graus. ou um pouco
menos. talvez 187 graus. já que ela era ansiosa.

mas aí ela finalmente chegava à conclusão de que o relógio nem de ponteiro era.

e agora, o que fazer? fingir que escutou alguma coisa de algum
estranho no meio da rua? fingir que estava atenta a cada detalhe das
conversa com os amigos? não se sabe.

só sabia que de alguma forma, o coração parecia meio acelerado.
mas ela acabava colocando a culpa na mãe. afinal, era dela culpa de todos os seus problemas.

que culpa eu podia ter de nascer assim? já com o coração acelerado e
as mãos um pouco trêmulas por qualquer conversa boba.

ela continuava indecisa.

tentou lembrar da ultima vez que comeu jujuba. ou pelo menos da
penúltima que brincou com um cachorro ai qualquer de rua. que fez cena
para pedir um doce. ou chorou só por que esqueceu a passagem em casa.

viver parecia realmente ficar difícil em um momento como aquele.

de repente, ela começou a lembrar da última vez que tentou beijar
apaixonada. da última vez que falou só com o olhar. por que só o olhar
basta, mesmo quando a boca estava bem mais perto do que devia.

aliás. devia muito.

devia ficar ali para sempre. porque em um desses momentos, ela
esquecia atá a tabuada de cinco.

mas ai, de repente, começava a contar os minutos para adiar qualquer despedida.

e em um desses instantes, ela notou que já estava fazendo malabarismo
com a tabuada de nove.

por favor, fala alguma coisa. eu quero ouvir a sua voz.

e nada da decisão decidir. e nada do ponteiro do relógio mexer.

mas que menina teimosa. o relógio não tinha ponteiro.

mas ela só queria saber do ponteiro do relógio . o ponteiro que não existia.

ela só queria saber daquele momento que não existiu. da decisão que
nunca ia tomar.

mais, de uma hora para outra, ela não queria saber mais de nada. de
beijo. de loucura. de momento.

ela queria ser astronauta. queria voltar no tempo e poder fazer o que não fez.

então, ela saiu de casa. desta vez sem bolsa. correu em direção a ele.

e no meio do nada, deu um beijo bem no canto da boca.

e simplesmente, saiu correndo.

viu que não era nada daquilo. ainda lembrava da tabuada de cinco.
errava a tabuada de nove. e sentiu a vermelhidão na bochecha que mal
sentia.

de repente, ela começou a sentir que, sem querer ,tinha adiantado o
ponteiro do relogio. e como ela era esperta até demais, adiantar as horas significava um pouco mais de 187 graus de indecisão, ansiedade e algumas dúvidas a mais.

e o menino, que não era nem esperto para saber se gostava dela, só queria saber do jogo de botão.

E ai se a menina soubesse que ele errou o gol porque gostou do beijo.

Aí sim. Ela ia acabar precisando de um relojoeiro.